Exposição “ENTRELA[N]CES – Santos, Futebol E Praia” | Comentada Por Arnaldo Ferreira Marques

“A MELHOR EXPOSIÇÃO QUE VI EM ANOS.

Quem trabalha com curadoria de exposições sabe a dificuldade que é unir conteúdo relevante e expografia bonita e atraente em mostras que não sejam ancoradas em atrações fascinantes por si mesmas, como Dalí ou Ron Mueck.

Há um monte de tentações pelo caminho.

Tentações como as miragens do formalismo desbragado (um monte de telas LCD, superfícies touch-screen, projeções pra todo lado, sons, luzes, pisos e tetos), sem um conteúdo que justifique e sustente tanta pirotecnia.

Ou o conteudismo selvagem, que pretende passar ao fruidor (quem frui, desfruta, aprecia, ou seja, quem visita a exposição com atenção) uma enorme massa de conteúdo escrito e iconográfico – o famoso “livro de parede”, terror de todo historiógrafo. Quem consegue ler/ver tanta coisa?

Ou ainda a tentação de ser “bacana” com a mistura de tudo-ao-mesmo-tempo-agora (objetos tridimensionais, depoimentos em áudio, fotografias, holografias etc. etc. etc.), outra forma de formalismo pretensioso e excessivo do qual – apesar do conteúdo às vezes até ser interessante – o coitado do fruidor sai mais confuso ainda.

Por isso, é com enorme prazer que indico a todas e todos, todo mundo de Santos ou de além-mangue, a vir ver a exposição ‘Entrela[n]ces: Santos, Futebol e Praia’.

Há anos e anos não vejo tanto equilíbrio entre forma e conteúdo, entre inovação expográfica e tema bem tratado, com mensagens claras e curtas que fisgam e encantam o visitante.

A Entrela[n]ces tem como tema o futebol de praia santista.

Em 2006, junto com as professoras do 5º ano da rede municipal – minhas alunas do curso Patrimônio da Gente de educação patrimonial -, cogitamos propor o futebol de praia para ser o primeiro bem imaterial a ser registrado como patrimônio cultural de Santos.

Todo um ritual e um saber de confeccionar traves desmontáveis com canos de pvc, guardá-las em locais apropriados nos prédios da orla, transportá-las nas tardes ou noites certas para a areia, marcar a areia com medidas exatas, instalar as traves cavando a areia… um saber aperfeiçoado em décadas de prática, passado de geração a geração, hoje em grande parte nas mãos de adolescentes.

A ideia de propor o registro acabou não indo para frente por vários motivos, mas ainda é válida.

Foi lindo então ver essa atividade tão nossa em uma exposição de primeiro mundo, incrível, emocionante.

Fiquei emocionado, de verdade.

Venham, venham, venham!

Só podia ser do Sesc! LONGA VIDA AO SESC !

E parabéns à Tg3 e todos os envolvidos.“

Arnaldo Ferreira Marques

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